quinta-feira, 19 de novembro de 2020

CIGANA

Você acredita em Deus? Ou na força da Lua, dos astros, da natureza, dos antepassados?

Pois bem, existe algo inexplicável e inimaginável que domina, por não ser sabível, a imaginação e todas as tentativas de explicação possíveis. Disso ninguém duvida. Aqueles e aquelas que ousam não crer ou ainda não sentiram, ou estão tão mergulhados num racionalismo irracional, numa lógica ilógica, que não permite sentir, de maneira que não chamaria de alguém.

Não neste momento, onde cada poro da pele parece sentir energias que por vezes entram do cosmos para dentro do ser e por vezes explodem de dentro pra fora. Como isso aconteceu, como faz pra sentir assim? Ao certo não saberia dizer, o como, mas o quê sim. Melhor o “quem”. Sim, uma pessoa, da qual o significado da importância, da beleza, da paixão, pode ser retratado em um momento. Sim, o quando, o retrato, aquela imagem sem par daquele par mais lindo de olhos impossível. Brilhando olhando embaixo do marco da porta, com ternura, com aquele movimento rápido entre mirar meus olhos e minha boca. Olhar lancinante, que atraí e prende, que acalma e dispara o coração, que esquenta o sangue e ao mesmo tempo chama para aquecer-se do frio no seu caramelo escuro de bordas negras.

Olhar de cigana, sim, legítimo. Dona dos destinos, nas cartas e na intuição que sente na pele.

Arrepia, no olhar como no frio, um frio em quase verão, frio de setembro que ela que traz, veneno do escorpião que gela por fora, arde por dentro. Escorpiana, a rainha delas. Filha da primavera que todas as flores do mundo merece em seu renascer.

Renasce, sempre, renasceu a duas primaveras, dona do mundo trouxe ao mundo sua dona. Mãe de Nina, mãe do mundo. Que seja todo dela e guiado por ti, Cigana.

Das coisas que viveu, que pude ouvir que fácil não foram, mas que ensinaram. Experiências que soube que serviram para fechar os maus caminhos, e abrir aqueles certos. Os caminhos são sinuosos, e a calmaria não faz parte da história, e não poderia fazer, Yansã não deixaria d’as tempestades mandar, faz parte dela. Marinheiro sou, navegar é preciso e só a inconstância do balançar constante deste barco que cria o ninho para que nasça o amor, Yemanjá. Ser teu porto seria meu sonho, mas sonhando prefiro contigo navegar, mares e portos desvendar.

Não só no mar reina, ela encontra Oxum e com todo entusiasmo é recebida. De tanta vontade dela que estava o grande rio corrente, ao botar o pé na água já vêm os peixes lhe saudar, morder, se deliciar. Como queria eu, em teu corpo e vida mergulhar, mas me faço alegre e completo, de tua vida partilhar, teu cheiro sentir, tua pele morena abraçar. Tua fome saciar, do churrasco campeiro gaudério aos temakis e sashimis japoneses.

Algum feitiço nisto há, Cigana ela, me tem por seu, para o que desejar.

Toda a força de algum Deus ou alguma Deusa que há, ela sabe se valer, certo que sabe. Fecho os olhos e só vejo aquele olhar, aquele mesmo que hipnotiza, com aquele sorrisinho de canto da boca que carrega tudo de lindo que pode haver em um semblante. Sorriso que parece inocente e leve mas carrega toda a ardilosidade de Cigana.

Cigana de dom, cigana de jeito, cigana de alma, de coração. De verdade é, pois como um feitiço me tomou por seu, e nestes 26 anos de vida, só desejo estar nos próximos, mas indiferente desta dádiva, que sejam muito bons, felizes e cheios de amor. Tudo de bom Dani, o mundo é seu!


R.F.