sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A Lua é frustrada

não gostaria de ser a Lua
de forma alguma!
imaginem, você tenta escapar do lugar onde está quando percebe que não irá gostar do que esta por vir
e como castigo, você fica eternamente orbitando, "rodiando" esse lugar
com um olho para sua ex-casa, vendo tudo aquilo que queria fugir acontecer
e outro olhando longe, olhando O Tudo, a beleza dum Universo em que em sua maior parte, não existe a podridão que seu outro olho enxerga

G.G.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Da Flor


Provar da flor
do ventre
Que ele mesmo
Fez ser
por plantar

Leve, limpo, sublime
Luxurioso e insensato
Na presença
Ausente
na ausência
Imenso

Sem fim
Sem meio
Sem meio termo

Nem meio filme
Nem meio espelho
Nem meio whisky

Meio sórdido
Meio sufocante
Meio sádico
No início
e sempre
de si próprio

R.F.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

a Dona

Tinha algo além da indecisão que a atordoava, e não era nada banal. Não era algo como recado indesejado dado, como que sem o aviso prévio da consciência de quem lhe entregou. Seria bom se soubesse o que era. Parecia-se com a angústia, mas não era tão sufocante.
Levantou de sua cadeira, provocando o assombro de todos, segurando em uma mão a .380 e em outro, a flanela. Sabia que era um cuidado quase desnecessário, se não se levar em conta, claro, a estética do momento em que fosse necessário usá-la. Pensava nisso inclusive como requinte de crueldade, não que se orgulhasse disso.
– Não vou ficar parada esperando pelo que não virá - disse a uma voz que beirava a sutileza do barulho de seu caminhar, mas audível o suficiente a todos da sala.
Se lançou porta afora, para sair a rua.
Os outros ficaram se olhando com o rosto encharcado de perplexidade, como que se por alguns segundos estivessem tentando sintonizar um a mente do outro para entendê-la, e decidir como agir.
Os dois homens de capa saíram atrás dela, sem nenhuma vontade de impedi-la ou dissuadi-la, menos ainda por preucupação com o fato de ela ir sozinha, sabiam que quem estaria lá não causaria problemas a ela. Estavam há dois dias naquela incerteza e sem ação.
– Malditos, realmente souberam nos deixar confusos – e percebiam que nisso, os seus oponentes neste Jogo eram mestres.
– Já que estamos entre amigos agora, que tal contar realmente o porque do anel estar contigo.
– Já lhe falei, não posso, não sou desleal, e juro que não foi da Dona que peguei.
– Achei que nossa lealdade fosse maior que qualquer outra. Não sou do tipo sentimental, mas entreguei a você meu caro, não só a minha amizade, mas meu coração.
– Cala a boca! Entregou sim seu corpo, para sanar suas necessidades, admita. Agora quer fazer joguinho emocional.
– Mesmo que fosse, o fato de estar contigo pode ser muito importante para a nossa estratégia, a não ser que você não esteja jogando só do nosso lado.
– Como ousa, dizer que me ama e suspeitar assim de mim.
– Esse seu olhar nunca me enganou, você é o traidor, você entrega os nossos passos. Como sou idiota – berrou sacando o 32 que estava no cano de sua bota.
Caiu antes de conseguir fazer a mira, seu movimento fora previsto, seu companheiro de crime e de cama o olhava, aterrorizado consigo mesmo.
Dentro daquele olhar de terror restou a dúvida. Por que seu amado alvo não sacou a pistola da cintura? Se o tivesse feito, não teria tempo de sacar a sua, e estaria morto. Ele era profissional e essa falha não poderia ter sido fruto do acaso, ele fez de propósito, como uma última prova de amor.
Os outros dois agora esperavam dentro do carro conversando:
– Já pensou como as pessoas agem de maneira mecânica?
– Trabalhar, estudar, etc?
– Não só isso. Se interessar pelas coisas, parece que cada paixão, cada nova invenção é um dentinho de uma engrenagem, e não importam as escolhas.
– Tipo... destino?
– Odeio essa sua mania de responder tudo com uma pergunta.
– Como agora?
– Não é destino, é tudo aleatório mesmo. Você perde um ônibus e ao pegar o próximo encontra alguém, que é totalmente aleatório, e tem uma conversa que muda sua vida. Mas não pensa que no ônibus perdido você poderia ter encontrado uma pessoa que pudesse te apaixonar, proporcionar filhos, lar com cachorros e tudo, essas coisas. Entende?
– Não.
Os tiros.
– Vamos lá, só não entendi essa de não matar antes de dez minutos.
– Deve ser para se ter certeza da distância.
Ela entrou no carro, e enquanto andavam começou a contar como fora, dos capangas baratos, da Dona amarrada, conseguia disfarçar exatamente suas emoções, com frieza andou naquela carona, contou quase uns dez minutos, para dar certeza de uma distância mínima. Os dois imaginavam que ela jamais sacaria o plano, mas não, e perderam bons minutos, quando aconteceu nem dera tempo de fazer como os agentes. Não daria tempo para nada mesmo, o carro explodiu.
Enquanto isso, ele continuava na sala, com a arma na mão. Agora parou para pensar que boas decisões deveriam ser tomadas quando regadas a whisky, preferencialmente ao som de Lynyrd, o whisky tem essa peculiaridade fantástica, de proporcionar momentos bons para tomar decisões. Depois de ter ouvido todo o plano, percebeu o quanto era miserável, idiota, inútil, e manipulável. Não lhe restava alternativa, era impensável, como se um instinto natural o levasse a atirar.
O último, por sua vez, tomou mais um gole de whisky, pôs edge of forever para tocar, começou a falar, falou tudo que era necessário, delicadamente, sem restar nenhum pingo de remorso. Afinal, o plano dera certo. O anel não era da Dona, claro que não, e esse foi seu trunfo.
O casamento com a Dona pelo menos lhe rendera a herança, além do anel.
E os outros dois até ficavam bem, além de bem hilários. – engraçados pra caralho, na verdade, ex agentes hehehe – falou segurando com os dentes o cachimbo.
- E pensar que os dois achavam que iriam ganhar o Jogo, na verdade ganharam, só não receberão o prêmio.
Só uma coisa lhe atordoava, talvez a menina que julgou ser boa o suficiente para fazer o trabalho sujo, fosse boa demais. Ao menos ele sabia o que lhe atordoaria, afinal isso também fora um de seus trunfos.
E de esforço, só o último passo e sabia que lábia para isso tinha, convencer um homem transtornado a se matar. Terminou o serviço e parou para pensar que boas decisões devem ser tomadas quando regadas a whisky....

R.F.


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Alguma arte


Talvez me falte alguma arte
Alguma arte na vida
Arte nas relações
Com os números
Com os humanos

Admiro a arte e o possuidor da arte
O que escreve bonito
Um quadro com mensagens
Uma equação elegante
Um malandro de boteco

Talvez me falte alguma arte
Para lidar com as coisas do mundo
Lidar com as equações e com as pessoas.

G.G.

domingo, 13 de maio de 2012

Poesia


A vida não vale a pena sem poesia
certamente
claro que não me refiro
a essa merda que estas lendo nesse momento
estou falando da verdadeira
da grandiosa e bela poesia

Augusto do Anjos, Fernando Pessoa
Quintana, Byron, Bukowski
entre outras mentes iluminadas que me fazem permanecer vivo
mataria-me tranquilamente um dia desses
que a humanidade é porca quase todos sabemos
não sei onde há inteligência nesse mundo
mas enfim, quero como Brás Cubas
deixar a vida sem herdeiros
não transmitir a nenhuma criatura a miśeria de nossa existência.

Enquanto isso faça alguma coisa que realmente valha a pena
pegue seu livro de poesias
e viva.


(G.G.)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Sem Nome

- Bah, to morando em Rio Grande.
- Legal, mudar é bom. Sempre vivi em Julio, e quando fiz dezoito anos sai de casa e fui ser caminhoneiro.
Estranho aceitar que alguém da sua idade possa ter objetivos tão diferentes, em uma estrada tão pequena.
- E o senhor? Se tem tanto medo, por que parou pra me dar carona?
- Qualquer um pode se expressar maravilhosamente bem com as palavras. Escrever, falar e gesticular não me garantem a verdade, mas eu vi no seu seu olhar o que realmente quis me dizer, mesmo através do parabrisas.
- Quer dizer que não dá ouvidos ao que estou tentando lhe falar?
- Se abrir a boca novamente pra falar de anarquismo te deixo aqui, no meio da estrada.
O olhar. Nunca havia refletido tão profundamente sobre isso. Creio nunca ter logrado me expressar tão bem com as palavras do que com o olhar.
Me fissurei. Agora fico por horas analisando os olhar das pessoas. A colega linda e meiga, que fala muito pouco, demonstra um turbilhar de vontades. Olhar furtivo. O cara louco que nunca consegui compreender, demostra o quão despreocupado e sincero realmente está sendo. Um olhar sereno. A menina que não para, que nunca cansa, na verdade se preocupa demais com os outros. Olhar extremamente inseguro.
E a estrada, bom, a estrada tem olhos, ninguém consegue mentir para a estrada, e ao mesmo tempo qualquer um sente o que ela realmente quer que aconteça. Como um deja-vú.
Aos poucos é possível sentir somente olhando para os dois olhos grandes da máquina, se ela parará para você ou não, mesmo antes de cruzar o seu olhar com o do ser humano dentro dela.
- Quer dizer que não acredita em deus?
- Isso mesmo, na verdade, ao invés de acreditar em mitologias que alguém criou para me alienar, dominar e roubar meu dinheiro, criei a minha.
- Posso ouvi-la?
- Claro, nela existe uma deusa, linda, sua face é angelical e seu olhar mágico e sincero. Suas curvas são perfeitas e mortais, e ela tem o poder de carregar quem a reverencia em segurança para onde for, gratuitamente. Mas pode ser mortal e matar em um piscar de olhos.
- Tem nome?
- Bom, chamo de estrada, enquanto não descobrir o nome da mulher que a governa.

R.F.

Paciência

Sempre fui dito um cara calmo
sempre achei que tivesse muita
paciência
menti
não tenho nada de paciência
simplesmente
assim como Lenini
Eu finjo ter paciência...

podem me olhar
a face tranquila e calma
falsa face calma

por dentro estou explodindo
coração batendo forte
mas como sou vil e falso
Eu finjo ter paciência...
assim como Fernando Pessoa
cansado de semideuses
não sei se aguento muito
talvez um dia exploda
me revolto com a realidade triste
mas minha fraqueza me impede de agir
homem fraco, falso e vil..
que finge
ter paciência.

G.G.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Felicidade

a felicidade
que mera ilusão
divertida
claro que te gosto
claro que te
gozo
oh felicidade
mera porcaria
como é boa a risada
como é bom a noitada
como é boa a cerveja
como é boa a vida
Bazinga!
é assim que pensamos
é assim que pensam
(acham que pensam)

ser feliz...
objetivo de todos
todo ser humano
almeja ser feliz
mas o que é isso?
ser feliz
ausência de toda dor
existe isso
essa ausência
será possível escapar
da dor física
e da dor
emocional
tentarei a religião
-Deus faça-me feliz!
segui seus mandamantos
mas só a merda que acontece
perdi amigos, familia
namorada, emprego
isso é felicidade Deus??
larguei esse velho chato

tentei outra religião
mesma coisa sempre

tentei livros de filosofia
passatempo interessante
mas não pra toda vida

tentei a cervejada
alcool pro meu organismo
aproveito e encurto
meu período nesse maldito planeta
o alcool é divertido
mas preciso de dinheiro para comprar
a felicidade
também chamada
fuga da dor
ou cervejada

trabalhar
isso com certeza não é felicidade
mas então me deparei
com o estudo da Natureza
essa mesmo que destruiu e matou muitos
na china
nos estados unidos
e no brasil
agora sim
essa é outra fuga interessante
me engano como todos
se enganam
mas pelo menos
é divertido
da pra ganhar dinheiro
pra comprar a cerveja
que outros chamam de felicidade
através de algum tempo calculando
e sim
se divertindo
um pouco
ao menos.

G.G.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Um poema felizinho demais

Eu costumava
Alguns anos atrás
Gostar da morte
De certa maneira
À via como uma bela dama bem vestida
Que viria nos buscar para nosso último jantar da meia noite
Resgatar-nos dessa redondeza estúpida
Do sofrimento e da grande merda que nos cerca

Não penso mais assim
Algo aconteceu
Que bom!
É bom que algo aconteça
Nessa vida que temos
Única
E especial por ser única
Quero continuar curtindo essa vida
De várias maneiras
Na companhia de amigos e familiares
Na leitura despreocupada no fim da tarde
No estudo preocupado de fim de semestre
No mergulho no rio de minha infância
Na cerveja nossa de cada dia
No sono revigorante de sábado à tarde
No mate com os amigos ao céu aberto

Enfim, quero continuar vivendo
Sei que a dama Morte me espera
Em algum lugar e em algum tempo
Mas se puder me esquivar
Esquivar-me-ei!
Por que mesmo a vida não sendo bela em todos os momentos
Sei que minha amiga Vida é única
E vou continuar apreciando sua beleza
Pelo tempo que tiver

N.S.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Início

Nunca dispense qualquer método criado para atingir pessoas, todos eles, se chegaram até você, de alguma forma obtiveram sucesso. Então siga-os cegamente pois quanto mais recentemente você vê, mais quente está esta ideologia em sua mente.
E a técnica da política, no seu termo mais puro, consiste em fazer com que as ações e ideias estevam vivos na cabeça das pessoas. Este é o motivo pelo qual refutamos a política da forma com que ela é feita hoje, pois quem realmente tem poder sobre a opnião, através da mídia, é o capital.
Ele tinha isso incrivelmente encravado em sua mente e então, acordou e percebeu que estava ao lado do corpo mais escultural que já conhecera. A amnesia alcoólica não lhe permitia lembrar de como fora parar naquela cama, nem de como sua paixão, até então platônica havia consentido uma noite com sua inspiração.
O álcool as vezes nos impele a tomar atitudes que não passam de desejos da mente sóbria, e isto, ele acreditava, era o motivo pelo qual bebia.
O quarto cheirava a sexo e a cigarro, com um leve odor de maconha que completava a cena.
Sempre se sentira atraido por Sebastiam, mas sempre ocultara a atração, ora por vergonha e respeito pelos amigos em comum, ora pelo preconceito que essa opção poderia lhe causar. Mas agora percebia que aqueles olhos, mesmo cerrados, eram de uma profundidade embriagante, e que aquela boca, que sempre desejara, era de um vermelho tão simples e macio que só o fato de saber que a beijara na noite anterior já lhe provocava arrepios.
Ficou por minutos analizando as curvas daquele corpo nú, como quem admira uma escultura do mais nobre acabamento e originalidade, para somente então se dar conta que estava em um ambiente estranho.
O quarto era de tamanho limitado, onde se acomodava a cama, de casal, e um guarda roupas e, mesmo no escuro, demonstrava ser bem antigo já gasto pelo uso.
Levantou-se, andou até a silhueta da porta e ultrapassou o marco para chegar a uma peça, sala e cozinha, mínima e com poucos móveis usados já desgastados. Fora ao banheiro e retornou ao quarto, percebendo que nada havia se alterado, ligou a luz, num interruptor que demorara a achar devido a ausência da luz do dia, que iluminava somente a peça anterior através de um vitral.
Admirou mais uma vez a conquista da noite anterior, botou suas roupas e saiu para a rua.
Sabia que Sebastiam residia em um apartamento na Av. Santa Cruz, mas nunca estivera lá, exceto nesta noite.
Mal andara dez passos e ouvira uma voz familiar lhe gritando:
E aí Santiago, que fazes por aqui, como foi a noite ontem.
Era Hugo, um amigo que estimava muito, mas que era conhecido pela sua forma indiscreta, o que lhe rendia a fama de chato.
Boa, por que? - Exclamou Santiago, temendo a gozação pelo fato de sair da casa de Sebastiam, e calculando mentalmente quantas pessoas já sabiam do seu final de noite.
Por nada, ontem quando a Lya passou por nós, ficaste serio e depois de alguns minutos saiu correndo, dizendo que ia ao encontro dela a acabar com todo teatro entre tu, ela e o João, depois ninguém mais te viu.
De verdade, não lembro de muita coisa de ontem a noite – Disse aliviado com o fato de não ter sido descoberto, não pelo Hugo, ao menos.
Continuou caminhando e ruminando o que realmente iria fazer, tinha tantas coisas para se preocupar: o oriente médio, a possibilidade de super inflação, os companheiros de jornada, os colegas, a família, seu gato, etc.
Pensou em talvez fazer um ato, mas pacífico já virará moda.
Qualquer coisa, mesmo pacífica e legal, mas com caracter mais agressivo, seria considerada ruim por quem deveria apoiá-la.
E as ações realmente inteligentes, corretas e eficazes, acabaram perdendo adeptos com o passar dos anos.
Chegou a triste conclusão que foram eles que ganharam. Eles que estão no poder que conseguiram.
Eles acharam um método para calar qualquer voz e, nunca alguma geração se arrependerá tanto de não ter lutado, como a nossa.
E quanto a Sebastiam, iria usar um método parecido ao do sistema: “Se ninguém souber, não terei que sofrer as sanções que essa sociedade impõem.” Mesmo que isso fosse contra os princípios que ele mesmo, ainda assim, acredita.
Então parou, encostou-se no corrimão da ponte, e virou-se para o rio.
E ali decidira se era essa a solução para os problemas do mundo, ou não.

R.F.