Numa destas frias e fracas noites de pseudo inverno. Ele chegou totalmente transtornado.
Todos conseguimos perceber o caos a quilômetros, porém alguns desenvolvem mais essa capacidade, seja por necessidade, pelas regras que a vida impoem, seja por escolha, ou até mesmo sadismo. Eu o percebi.
Me falou afoito "perdi o controle" e ainda: "fiquei sem chão".
Me falou ao ouvido que por mais que a vontade de se destruir fosse mais forte, meu olhar era o que ele não podia ver.
Insistia: "abriria mão, dos meus sete sentidos pra ficar, uma hora do teu lado"; "estava tão concentrado em ficar bem"; "eu nunca quis ser melhor do que eu era, eu sempre quis ser transviado, mas eu nunca quiz encomodar ninguém, e assim eu sou o que sou hoje".
E se existe uma capacidade em qualquer ser humano, é a de se compadecer de algumas situações, não necessariamente precisamos corrigir os erros, mas todos em algum momento os percebe.
E a minha fé reside no bom senso das pessoas, dele, mas principalmente meu.
O que ocorrera de concreto, até hoje não entendi, talvez seja culpa daquela velha mania que nossa memória tem de ser etilicamente sensível. Ou talvez o subentendido explique mais que fatos claros.
A ausência de palavras para explicar, de algum modo, consegue dar conotações que nem a melhor argumentação conseguiria.
Mas enfim, o que resta para mim, tu e ele, não é a explicação, a história. Pode ser até desapontante. Mas o que fica é perceber, que as vezes percebemos pouco, que a sutileza das entre-linhas é uma arte e a percepção livre e aberta, uma virtude.
R. F.