sábado, 15 de outubro de 2011

Alívio

A essa altura da noite, o silêncio não ajuda muito. As destiladas e sintéticas sempre me atrairam, mas nunca como hoje. Já são quatro da manhã, e ainda estou aqui, sem nenhuma perspectiva de realmente aproveitar as substâncias que agem em meu corpo.
Estou rodeado de pessoas, mas a melhor companhia é a voz do Daltrey gritando a todo volume em nossa vitrola.
Olho para o cara com um chapéu, e olhar soturno, depois para a menina indecisa e confusa sentada ali no chão, e aquele outro que não para de falar, mesmo que ninguém preste atenção. Me divirto tentando adivinhar os pensamentos deles, o do chapéu, tenta ser o mais obscuro, mas acaba sendo o mais previsível, aposto que sei o que pensa.
O que fala muito, com certeza não pensa em nada, só está vomitando efemeridades que passam pela sua cabeça, ele não é assim, mas esse é um dos efeitos. O que não consigo prever, e estou a horas tentando, são as reações dessa menina. Será que é tão misteriosa, será que só é confusa, ou será eu que estou ficando paranóico?
Enfim, a cena que eu inconscientemente esperava. Abriu-se a porta e aquele vulto deu o primeiro passo para o interior do recinto, o brevissimo instante de ver sua mão e a ponta do seu pé passar pelo vão da porta que se abriu já era suficiente para prender minha respiração e e aquecer meu corpo.
Vê-lo então de corpo inteiro ali dentro, arrepiava cada pêlo do meu corpo.
- Vem comigo? Sabia que ele só responderia com palavras se fosse para negar. Mas ele veio.
Enfim a sós, delicadamente abri cada botão e cada laço que prendia suas peças de roupa, o mesmo fiz comigo.
Tudo foi se tornando mais simples, rápido e óbvio, e quando fui dar conta, já estavamos transcendendo encaixados.
Então lembrei, tive um instante de consciência. Parei. Começei a tatear minha cama em busca daquilo que havia deixado ali de propósito, caso fosse necessário. Ele se virou de costas, e eu não resisti, como era lindo, de qualquer ângulo e sob qualquer olhar.
Continuamos, e naquele êxtase maravilhoso, encontrei o que procurava, embaixo do travesseiro.
E desferi o golpe, aproveitando que ele não vira minha movimentação, pois naquele instante ele não conseguia abrir os olhos nem parar com aquele gemido profundo.
Afundei toda a lâmina quatro dedos acima de seu umbigo, ele gemia. Continuei, com mais dois ou três golpes que me certificaram do sucesso.
Agora estou aqui, ainda nú, deitado em meu sofá, balançando a adaga entre o polegar e o médio, com a lâmina para baixo, cambaleante, a mirar meu peito.
Agora posso terminar aquilo que comecei.

R.F.

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