sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Não Sei

Ele ainda estava lá, a observá-la. Como uma víbora a aprisionar sua vítima com o olhar soturno, era mestre nisto.
Não eram as botas, nem o sobretudo e muito menos os traços Maccartianos do rosto, mas sim o olhar, que muito pouco de belo possuía, negro, sem nenhum furor.
Conseguia simplesmente com aquele dom, que sabia ser sufocante, prendê-la. E isso bastava.
Ela estava ali, e hipnotizada, continuava a observar e perdia toda a noção de hora e vontade. Era incrível.
Num momento, se distraiu com um mosca, ou algo parecido, parece que colocado propositalmente pelo destino no seu campo visual e, naquele milésimo de segundo ela fugiu.
Onde estaria não quis saber, já havia conquistado o que precisava naquela noite pois acreditava, erroneamente, que se satisfaria somente assim para todo o sempre.
Ela agora corria, semi-nua, deixando os dedos resvalarem, delicadamente pelos pequenos pilares que compunham a fotográfica cerca daquela estranha boulevar.
Assim se passariam os dias, muitos, até que um som novo lhe viesse carregar ao fatídico momento da parada, do fim.
E assim ainda ficaram as duas estátuas, quase que de sal, para que alguém por elas passe e admire alguma coisa triste e vazia que ainda resta em suas silhuetas.

R.F.

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